Qual o verdadeiro significado da função paterna?
E qual a importância da figura paterna na dinâmica familiar?
Quando nasce uma criança, naturalmente “nasce” com ela uma mãe, com o desejo de cuidar para promover o desenvolvimento saudável de seu filho.
Neste artigo, falarei da função paterna e da paternidade, como conceitos distintos.
Para falar da função do pai, é necessário entender que só uma mãe sabe ser mãe e, do mesmo modo, só um pai sabe ser pai. Certo?
Então leia até o final para entender sobre o conceito de função paterna e paternidade e suas implicações durante a vida.
Como A Paternidade Muda O Homem?
Tornar-se um pai ou ter a paternidade no aspecto biológico, não tem nada a ver com a função de um pai.
O pai pode experienciar a notícia de se tornar um pai com algumas reflexões repletas de novos significados, transformações na vida e até mesmo novas responsabilidades não vistas antes.
Pode até mesmo se remeter a pensar ou reviver a experiência com seu próprio pai e reavaliar valores da própria criação tida com ele.
Mas, nesse burburinho de pensamentos que um pai possa ser atravessado, em relação à experiência da paternidade, é extremamente importante entender que a função paterna tem seu complemento na formação da personalidade da criança.
E, ao contrário do que se pensa, um pai ativo está pronto a atender as necessidades de seu filho, antes mesmo que a mãe assim o peça, pois esse passa pelo desejo de ser um pai e toma parte na educação e no acolhimento.
Mas afinal, pai ajuda?
O pai não ajuda a mãe, ele faz a sua parte.
Coisas simples como auxiliar a mãe nos cuidados com o bebê, estar por perto, ser atento às necessidades que aparecem…
Não há fórmula para o cotidiano.
É o querer do pai e envolve muito a visão que ele tem do papel da mãe, do feminino e do masculino e todas as complexidades de desempenho de papéis.
Claro, nenhum pai e nenhuma mãe nascem prontos.
A mulher aprende a ser mãe e o homem aprende a ser pai.
E nos contatos iniciais da vida, o bebê está imerso em um mundo de natureza instintiva e totalmente ligado ao contato e ao cuidado materno.
Pois ele necessita desses cuidados básicos de sobrevivência, que por hora a mãe que deve oferecer.
Enquanto o bebê cresce e vai se tornando uma criança, é muito importante que os pais – mãe e pai – tenham atitude de respeito entre si e estejam claros de suas próprias funções perante o filho.
Função Paterna e Paternidade São Conceitos Distintos
Quando o pai está presente no ambiente familiar e se interessa pela criança desde seu nascimento, pode até mesmo participar ativamente de seus cuidados, como por exemplo, dar-lhe mamadeira, o banho, trocar-lhe as fraldas, fazê-la dormir…
Mas esses cuidados, pelo menos no momento inicial, não conferem ao pai a função que lhe é própria.
E não é porque esses cuidados não são importantes na vida da criança, mas eles efetivamente não definem a função paterna.
Não depende do fato de ele ser amável ou bruto, carinhoso ou distante, cuidadoso ou desajeitado. Efetivamente não.
Portanto, o que vale entender é que, da saída do colo da mãe ao mundo, para a estruturação da linguagem, o pai fica responsável pela simbologia da entrada da criança na cultura.
Quais são as funções de um pai?
Neste sentido, a primeira função do pai é aquela de dizer “não” ao filho, de barrar, de interditar e colocar limites.
Na paternidade, não se trata de um desejo da mãe a criança ter um pai.
O pai tem sua presença marcada no ato que deu origem à criança e a mãe não deve negar.
O discurso materno deve marcar a importância e a existência de um pai, pois isso a ajudará a educar e estruturar seu filho.
A mãe deve fazer da palavra do pai uma ordem de limite à criança.
Assim como é importante a mãe desejar cuidar de seu filho, ela também deve permitir que o pai seja ativo na educação e envolvimento com a criança.
É importante destacar que considerei a descrição acima na simbologia de uma família nuclear – pai, mãe e filho.
Contudo há configurações familiares atuais que requer um olhar exatamente na “função paterna”, pois ela ocorre independentemente da presença do gênero masculino.
Quando o pai é ausente
Vocês podem estar se perguntando: mas e se o pai é ausente?
Atualmente há diversas configurações familiares e o conceito de “mãe solo”, que concretamente significa que o pai é ausente.
E isso ocorre quando a mãe decide ter seu filho independente da presença de um pai físico, que pode ser em decorrência de circunstâncias inesperadas, como uma gravidez, morte do parceiro, fim de um relacionamento, ou até mesmo através da adoção ou criação de uma criança.
O avanço da ciência também traz essa possibilidade por meio da reprodução artificial.
Por isso, é importante ressaltar que a função paterna não está vinculada à presença física do pai.
E quando um pai está ausente ou morre, pela natureza instintiva a criança elege alguém para “admirar” e ocupar simbolicamente essa função paterna.
Portanto, toda criança pede e necessita de limites para se sentir segura.
Por outro lado, o pai deve existir para a criança no discurso da mãe, mesmo quando ele é ausente, no sentido de que a mãe também deve colocar limites e situar a criança dentro de uma lei, uma configuração e uma ordem parental.
E quando o pai falha?
Toda criança necessita de limites.
Um pai que não se posiciona como aquele que faz a lei, que nomeia certo e errado, e se mostra também marcado por uma lei, não cumpre efetivamente a função simbólica da paternidade.
Vou dar-lhes um exemplo: imaginemos que segue no carro pai e filho.
O pai, ao ver o sinal vermelho, para o carro e o filho lhe pergunta por que o carro parou.
Uma resposta seria que o sinal está vermelho.
Isso bastaria para a criança naquele momento.
No entanto, um pai mais atento e marcado pela lei pode ir além dessa resposta.
Pode explicar ao filho que mesmo que ele quisesse passar, não poderia porque esta é a lei – que no sinal vermelho tenho que parar e esperar.
Veja, um pai é a lei para seu filho.
É a ordem do caos, é a palavra que organiza o comportamento da criança.
A função paterna e a psicanálise
Joël Dor, psicanalista, em sua obra “ O pai e sua função em psicanálise”, mas precisamente no capítulo VII e sob a luz de Lacan, nos convoca a pensar a função paterna e seu fracasso.
Para ele a função do pai é uma das funções principais das estruturas na compreensão dos processos psicopatológicos.
O movimento que o pai faz diante da interação da mãe com seu filho, regula a estrutura psíquica da criança.
Ou seja, ele atualiza a Lei para a criança e media a fusão entre a mãe e a criança, não permitindo que a onipotência materna opere.
Uma mãe que se ocupa na interação com a criança na onipotência materna e não permite que o pai se aproxime dessa relação, empobrece a filiação de seu filho.
Ela faz por falhar toda a função paterna.
Uma função paterna também pode muito contribuir no desenvolvimento da agressividade saudável, essa voltada para o trabalho.
Quando Há Falhas Na Função Paterna
Cabe entender que quando não se estabelece a função paterna na psique, os perigos de conflito com a lei, psicoses e perversões são uma possibilidade.
Podemos pensar em como a Lei se estrutura na sociedade, como os indivíduos se relacionam com ela, que para a psicanálise tem muito a revelar sobre a castração necessária e oriunda da função do pai.
Como conclui Joël Dor, no campo psicanalítico, a noção de pai refere-se a uma entidade ordenadora da função paterna e constitui um epicentro crucial na estrutura psíquica do sujeito.
Não é uma tarefa fácil ser um pai.
Depende do desejo de educar, da vontade de passar valores geracionais, culturais e, sobretudo, afeto.
E você, tem o seu pai contigo? Sente-se regido por uma lei que te conforta?
Espero ter contribuído com o tema.
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