Entender o que é ser uma pessoa resiliente é uma dúvida que ronda a mente de muitas pessoas.

Eu considero essencial, a qualquer tempo, falar sobre resiliência e o que é ser uma pessoa resiliente.
Isto porque se trata de um conceito no campo da saúde mental, que analisa os recursos psíquicos saudáveis de uma pessoa, para lidar com situações difíceis, e por vezes adversas, inesperadas e desorganizadas durante a vida.
Ao contrário do que se pode pensar, o conceito de resiliência não é oriundo da psicologia, mas da física.
A física utiliza o termo resiliência para explicar a capacidade de flexibilidade ou elasticidade da substância de certos materiais, ou seja sua composição e sua dinâmica após suportar um impacto ou deformação.
Posso citar aqui dois exemplos, como a borracha e a pedra.
A borracha ao sofrer um impacto, por sua estrutura elástica, pode suportá-lo e voltar a ser uma borracha.
Claro que com possíveis deformações.
Já a pedra com um impacto de um martelo, por exemplo, quebra-se e se desintegra não sendo possível contar com a elasticidade encontrada na borracha.
As diferentes estruturas desses dois materiais determinam sua flexibilidade.
O tempo que a borracha leva para se recompor do impacto pode ser exemplificado como um processo de resiliência.
Sua estrutura elástica permite um ajustamento.
Já a pedra necessita ser reparada.
Considero um bom exemplo para mostrar o que é ser uma pessoa resiliente.
Agora vamos pensar em como a resiliência se aplica em nossa vida.
A Resiliência na Psicologia e Neuropsicologia
Na psicologia, resiliência pode ser definida como uma adaptação bem sucedida a situações adversas que envolvem tanto recursos internos, quanto recursos externos.
Os recursos internos são os aspectos intrapsíquicos de uma pessoa.
Os recursos externos, por sua vez, referem-se ao meio social e afetivo, como por exemplo, recursos financeiros, condições de vida e moradia e família.
A neuropsicologia também entende que a resiliência corresponde a uma resposta frente a uma vulnerabilidade, considerando saudável quando há flexibilidade por parte do sujeito em adaptar-se a uma situação adversa, difícil ou inesperada.
Atualmente, através de muitos estudos e análises, sobre o que é ser uma pessoa resiliente, é possível observar que também está associado à genética, idade, sexo, fase do desenvolvimento, experiências e história de vida.
Esses fatores interferem na construção da resiliência.
O neuropsiquiatra e psicanalista Boris Cyrulnik, que escreve sobre resiliência em seu livro “Falar de amor à beira do abismo”, a considera como a superação de um trauma, sendo essa superação capaz de trazer como experiência a sensação que proporciona o aumento e o gosto de viver o que ainda é possível.
Para falar de trauma, vou descrever algumas considerações à luz da psicanálise.
Resiliência, Trauma e Psicanálise

Na psicanálise não há um conceito da palavra resiliência, mas ela considera a noção dela nas fases do desenvolvimento humano.
Freud em seus estudos (1920) supôs uma interação das excitações excessivas do exterior do psiquismo, como também considerou que há filtros no psiquismo contra elas.
Como se fosse uma defesa psíquica.
A psicanálise, diferentemente da psicologia, refere que todo o processo de desenvolvimento humano requer passar por períodos de perdas e lutos, consequentemente nosso psiquismo se desenvolve a partir de traumas vividos e superados.
Sendo assim, a psicanálise entende o processo resiliente através da análise do funcionamento intrapsíquico do sujeito, ou seja, só é possível perceber o processo resiliente após o trauma, por meio do efeito psíquico gerado pelo mesmo chamado traumatismo.
Neste contexto, a resiliência não está ligada somente a contextos graves, situações extremas, como por exemplo, violência e catástrofe, mas a qualquer situação de “choque”, “abatimento” em que se faz necessária uma reorganização psíquica frente à situação apresentada.
O que torna um evento traumatizante é o não preparo do psiquismo na ocorrência da situação adversa.
Ou seja, não há capacidade do psiquismo em deter o trauma por não dispor de recursos e de defesas que permitem viver o acontecimento como não catastrófico.
Por isso que os mesmos acontecimentos podem ser traumatizantes para uns e para outros não.
Estar vulnerável constitui uma possibilidade traumática.
Aqui fica evidentemente claro pensar a vulnerabilidade de uma criança em se traumatizar, pois ela está construindo relações, significados e sentidos para as experiências que vive e consequentemente é imatura, neurologicamente e psiquicamente.
Uma pessoa é considerada vulnerável quando há uma carência de recursos internos, ou até mesmo externos, e começa a apresentar dificuldades de elaborar perdas e lutos, além de apresentar distorções cognitivas – por exemplo não avaliar adequadamente uma situação – e quando seu estilo de enfrentamento se torna inadequado frente à situação traumática.
Quando diante de um trauma, torna-se impossível a pessoa superá-lo sozinha.
Logo necessita de compartilhar através da fala com familiares, amigos, parentes ou meio social que seja de confiança, e por vezes é necessária uma ajuda terapêutica.
A necessidade que emerge é acolher, sustentar e orientar.
Existe uma sucessão de crises no desenvolvimento humano, seja na infância, com perdas do desmane, da chupeta, entre outras, como na adolescência há o luto da própria infância, do corpo que muda e das posturas frente ao mundo que devem ser elaboradas, igualmente na velhice.
Sem mencionar aqui em detalhes os desafios que a vida nos propõe entre perdas e ganhos como também muitas perdas necessárias.
Tanto na resiliência quanto no luto, existem perdas.
O que os aproxima é o fato de ambos serem impostos pela vida, causando uma sensação de passividade.
Não há portanto escolha da situação difícil, somente deve-se enfrentá-la.
Quais os fatores que contribuem para o desenvolvimento da resiliência?
Para a psicanálise vamos construindo nossa resiliência ao longo da vida e as bases estruturais e sustentadores já se iniciam nos primeiros meses e anos da infância.
Os cuidados da mãe e posteriormente do pai e cuidadores necessitam proporcionar para a criança sentimentos de segurança e autonomia.
Envolve sustentar o apego na relação com o outro, principalmente na
relação mãe-bebê, destacando-se aqui a qualidade e disponibilidade da mãe para cuidar e transformar as demandas do bebê, em pensamentos e necessidades dele e atendê-las, como por exemplo o choro, transformando em realidade as experiências vividas.
Essa interação é capaz de proporcionar ao bebê um desenvolvimento psíquico saudável promovendo segurança interna e posteriormente a autonomia e, consequentemente, a resiliência.
Uma mãe que é continente às experiências do bebê, constrói precocemente um estado intrapsíquico favorável para enfrentar adversidades na vida adulta.
Mas afinal, O que é ser uma pessoa resiliente?
Então, quais as características de um adulto resiliente?
Um adulto resiliente é capaz de ser flexível e de se ajustar diante de situações difíceis ou traumáticas.
A dificuldade em ser flexível pode ocasionar uma patologia, por exemplo um quadro depressivo.
É válido pensar que muitas vezes o trauma é barrado pela resposta adequada que a pessoa dispõe no momento de enfrentar uma situação, ou seja, quando ela tem recursos para lidar não traumatiza.
Na saúde mental e na psicanálise pode-se perceber algumas características sobre o que é ser uma pessoa resiliente:
- a pessoa acha uma saída para o problema através da busca de soluções possíveis.
- demonstra criatividade nas formas de adaptação frente á adversidade.
- conserva o humor, mesmo negro em algumas situações, por exemplo, rir de si mesmo e da própria situação.
- não é egoísta e pensa no outro.
Ela tem recursos internos que dão suporte e auxilia no manejo das pulsões agressivas, como sentimentos de raiva, por exemplo, bem presentes em situações traumáticas.
Quando há dificuldade com a resiliência ou ao processo de ajustamento, há um custo, um sofrimento psíquico que pode ser observado:
- A pessoa começa a se defender da situação e não consegue buscar soluções;
- Perde a confiança em si;
- Torna-se rígida frente à situação para tentar se poupar e se proteger e não muda de opinião e visão frente à situação adversa ou traumática;
- Pode fazer uso de álcool e drogas, às vezes em exagero; e
- Pode se tornar agressiva e violenta.
As pessoas com dificuldades de resiliência utilizam-se de defesas imaturas por carecer de recursos e necessitam de ajuda e acolhimento.
A família, ou o meio social e afetivo tem um papel importante nessas situações.
Todo adulto é uma criança que cresceu, tem história, vivências e experiências.
É possível reorganizá-las e atravessar uma situação, superá-la e construir recursos adequados.
Olhe para você e para sua resiliência!
Sempre atentos!!
Adriana Reame
Neuropsicóloga Clínica
CRP 06/98658